terça-feira, 4 de maio de 2010

UM ENSAIO CLICHÊ SOBRE SENSIBILIDADE...







A princesa de traços de linho já não incomodava mais o velho ogro. Com perguntas sempre subjetivas , a jovem de cor de pérola trazia uma pureza , há muito perdida , a cada visita sua presença se tornava mais interessante. Não, não havia malicia por parte do seu interlocutor , apenas o desejo mais puro e sincero de que a cada novo encontro a ruptura com o mundo concreto frio e objetivo se fizesse, algo sempre iniciado com as observações mais subjetivas da pequena pétala de gente.

Em comum entre as duas estranhas figuras, o desejo de simplesmente não estar mais ali, uma terra de limites , fronteiras e quase nenhum horizonte.

Naquela tarde , nada seria como antes, instantes mesmo de confirmar a sua presença diante dos olhos do simpático ermitão, a intrépida jovem de chofre lança a seguinte pergunta : o que é sensibilidade.

Mesmo antes de cruzarem os olhos, o grave tom de voz tão peculiar em momentos onde o crepúsculo se fazia ainda mais belo, naquele recorte de tempo, não pode escamotear a surpresa e tão pouco deixar se levar pela força daquela indagação.

A resposta surgiu num leve tom de amargura, “Como perguntas algo que é tão rico em você, e tão objetivo em mim. Sensibilidade e o que se vê e o que se sente, e nunca uma frase pronta”.

Traduzir o que seria aquele sentimento era um desafio inglório diante das suas experiências vividas. Uma ação tão desleal para si como para as palavras que pudessem se aproximar do que seria em verdade ‘a sensibilidade’. Por outro lado sentia-se motivado, mergulhar no escuro era sempre estimulante quando a intenção era buscar um sorriso sempre marcante que surgia daquele singelo rosto. Eram raras as vezes, mas o sabor de vitoria era indescritível toda vez que a jovem garota estimulava-se a sorrir.

Quase que imediatamente , sem deixar tempo para maiores reflexões continuou , “ A sensibilidade é a nossa maior bússola , um sentimento que de alguma forma está presente em cada uma das nossas escolhas, e cada jeito que observamos o mundo, e que acaba nos ajudando a definir um pouco do que somos hoje.Pelo que vejo, mesmo sem saber definir ela se mostra abundante em você”.

Sem tempo para elogios, a ebulição típica dos jovens se materializou numa segunda pergunta , “ E para você o que é a sensibilidade?”, retrucou quase de imediato. Um silêncio incomodo e absolutamente constrangedor amedrontou aquelas almas por longos e intermináveis segundos. “ Para mim a sensibilidade é uma estranha inquilina, que nem sei se mora mais aqui, de tão silenciosa que é”. Ousou uma atitude absolutamente descabida para evitar novos questionamentos. Estendeu-lhe a mãos e convidou-a para um dança imaginária. No que foi prontamente aceito, a garota entendia que ali nunca foi lugar para lógicas ou razões. Ouviu o solfejar de uma canção que não lhe era estranha, lhe soava agradável, uma lembrança atávica de quando sua mãe a embalava para dormir , “Tanto tiempo disfrutamos este amor / Nuestras almas se acercaron tanto asi/Que yo guardo tu/ sabor/Pero tu llevas tambien sabor a mi”...

Não quis comentar mas de canto de olho sem deixar perder o compasso, acompanhou uma furtiva lágrima que discretamente corria na face do amigo que agora se mostrava um exímio e sensível dançarino.

A dança em algum momento se tornou silenciosa como se seu partner estivesse no piloto automático, e a sua mente afogada em lembranças. A parada brusca e intencional da jovem princesa, já indicava o ponto final naquela estranha coreografia. “Tenho que ir” , desperta ela o seu cavalheiro com uma frase tão seca quanto direta.

Já era noite e uma despedida acontecia diante de uma noite enluarada, um abraço e um beijo na testa. ‘Ate breve’, disse. O ogro dormiria em paz , como há muito não o fazia. A visita daquele presente em forma de gente, trouxe a reboque uma leveza de sensações que guardaria por muito tempo na memória. Sabia ele , a sensibilidade em pessoa o teria visitado aquela noite. Antes de cair em seu merecido sono, pode ouvir a própria voz falar uma frase sem muito sentido, “ Falsos milagres do amor...” sorriu e dormiu, entender aquilo tudo já não fazia mais sentido...



Para sempre Forres Riba